Kazra foi nosso destino, na cidade portuária as margens do
Baixo Fayeen, Tobyr , por ordem de Draco, providenciou uma casa para
abrigar toda a comitiva Torvie. Não preciso dizer da agitação reinante na
cidade com nossa chegada. Não era comuns homens do Norte naquelas terras.
Concordamos que eu iria sozinha para
encontrar Ivar no Oasis de Saphir, Draco esperaria em Kazra, enquanto eu
trataria de iniciar as conversas e convencer Ivar da necessidade da aliança.
Não que isso tenha sido do agrado de meu senhor, mas ele estava, devo citar,
colaborativo. Três dias foi o prazo que ele me deu, nada mais, ou ele mesmo
invadiria “o Palácio de Areia” de Ivar e me arrancaria dali. A sempre sutileza
do Tarsk Negro.
Havia uma comitiva de Ivar a minha espera,
o que pareceu irritar ainda mais Draco. Ele não me permitiu partir no mesmo
dia, e fez, Hakin, o primeiro espada de Ivar, e toda comitiva, me esperar por
dois dias. Dias esses que ele inventava algo importante para fazer , como
escolher escravas que ficariam na casa a servi-los, (não que me desagradasse,
eu ate preferia escolhe-las, mas ora, ele nunca me chamou para escolher uma única
sequer escrava que ele já tivesse adquirido para o seu harém) ou mesmo fazer as
compras no mercado para deixar a casa abastecida. Sim, eu sei, são tarefas de
uma mulher e boa esposa, mas Tobyr já tinha lotado aquela dispensa com todo
tipo de mantimento possível.
No terceiro dia, não tendo mais desculpas
a dar, foi me permitido partir. Tive a sensação de deixar uma criança triste
para trás, mas era necessário. Era vital que eu garantisse o terreno para a
futura conversa de ambos, e também, eu ansiava por ter aquele tempo com meu
filho. Foram três longos dias de viajem dentro de uma liteira puxada por
kaillas. A paisagem avermelhada , o calor causticante e as noites frias e
estreladas do deserto a cada acampamento montado. Eu percebi a animosidade no
olhar de Hakin para mim. Creio que ele não compreendia, qual a importância
daquela mulher de hábitos estranhos para o seu mestre, Elijah, como meu filho
era conhecido entre eles. Nosso parentesco era desconhecido e um segredo a ser
mantido , pela própria segurança de Ivar.
E ele me esperava , do alto das ameias da
murada de seu kasbah, quando no terceiro dia de viagem avistamos o Oásis. Meu
coração explodiu em uma alegria única e foi preciso me conter para não estragar
o segredo e saltar nos braços do meu filho. Ali , eu era apenas a High Jarl'Woman
do Norte, uma estranha visitante que levantava perguntas e suspeitas de todos
sobre os meus objetivos ali. Afinal, o que queria aquela mulher que viajava
sozinha, sem o companheiro, tão longe de sua casa, para falar com o Ubar do
Kasbah?
Meu filho Ivar, ou melhor Elijah, havia se
unido em um livre companheirismo com Ahleena, filha de Gaius e Nidia de Ar. Um
dos vários eventos na vida do meu filho que perdi, pela rusga entre pai e
filho, eventos estes, que não estava disposta a perder novamente. Eu estava
decidida, e iria fazer o que fosse necessário, passar por cima de quem
atravessasse meu caminho, para unir minha família novamente.
Depois que passamos os portões do palácio,
depois de todos os guardas e escravos dispensados, ali, sozinhos naquele grande
salão, pude jogar-me nos braços de meu filho e matar toda a saudade de anos de
distancia. Ele parecia mais velho do que me lembrava, algumas leves rugas no
rosto moreno, queimado de sol, apareciam no canto dos olhos. Ele estava feliz,
tanto quanto eu e a presença de Ahleena com seu kajirus junto aos seus pés,
pareceu-me secundaria.
Ceamos e rimos bastante, contando as
novidades e revivendo as memorias, não falamos dos motivos da minha presença
ali no kasbah e já era tarde da noite quando me recolhi à ala leste do palácio.
Uma ala inteira montada para mim, Um luxo estonteante para os olhos, com salões
repletos de plantas, fontes , sedas e ouro.
"- Digno de uma Ubara. A minha Ubara!"
Ivar sempre foi um sedutor,
talvez por isso, eu nunca consegui dizer não a ele. E naquela noite, assim com
nas outras , matei em seu corpo e nos seus lábios toda saudade que tinha.
A história da mulher do Norte que era enviada pelo companheiro
para visitar o Ubar do Oásis de Saphir, despertou a curiosidade Kamal Farad do
Oásis de Siwa, que foi em pessoa conferir a veracidade dos fatos. Ivar, ou
Elijah, o recebeu e ofereceu o vinho e o sal, dando a ele a hospitalidade em
seu Kasbah. Kamal era um homem duro, de olhar firme, do tipo que não estava
acostumado a ouvir um não, ou ser desagradado. Percebi o olhar curioso que ele
lançava sobre mim, uma mulher sem véu não era comum naquelas terras, mas a
segurança do palácio de meu filho, me dava a liberdade de manter o costume do
Norte. Segundo Kamal, o motivo de sua presença, era ter ouvido que eu estaria
presente, e dessa forma, propor um livre companheirismo entre minha filha e um
protegido seu, bem nascido e de alta casta, que estava sobre a sua tutela,
Vittus Lawcet de Siwa. O nome me soou familiar, e casar Thassia já estava nos
meus planos, por isso, mesmo com Ivar enciumado pelos olhares que Kamal me
lançava, concordei em recebe-los em nossa casa em Kazra, e talvez, decifrar
melhor as intenções daquele homem.
Foram três dias intensos, onde apenas
estar um com o outro importava. Tomei conhecimento da rotina da casa de meu
filho. Sua felicidade me importava, logo, meus olhos caíram e Ahleena que
estava gravida e na insistente e perigosa presença do escravo sempre a
seus pés. Nada contra, Seth , o Kajirus já pertenceu a Draco e foi dele que
Ahleena o comprou. Mas ela agora não era uma mimada Lady de Ar e sim a Ubara de
Ivar, do qual, esperava um herdeiro, e , aquela situação poderia gerar maledicência,
abrir uma brecha para os inimigos do meu filho, e ate mesmo contestar a
paternidade de seu futuro herdeiro. Era essencial manter Seth , afastado dela,
longe de seus aposentos, pelo menos ate que meu neto fosse concebido, depois ,
ela poderia valer-se dele novamente.
Ivar entendeu a situação e concordou, já
Ahleena , sentiu-se afrontada. Mimada como era, passou por cima das ordens de
Ivar e voltou a requisitar o escravo em seu quarto. Oras, não foi difícil
descobrir a pequena arte de Ahleena, já que eu mesma havia infiltrada uma
escrava para servi-la de perto. Em consequência disso, Seth foi severamente
açoitado por Ivar e dado a mim, para ser levado ao norte para ser vendido ou
morto. Não negaria isso para o meu filho, ajuda-lo a livrar-se de um problema.
Draco talvez não gostasse da ideia, mas depois com calma eu o convenceria.
Eu estava disposta a não abrir mão da
convivência com meu filho e com meu futuro neto e para isso, minha missão tinha
que ter êxito. Nas várias ocasiões em que estivemos junto abordei lenta e cuidadosamente
o assunto. Ivar sabia, que havia algo mais por trás da surpreendente permissão
de Draco em minha visita. Haviam magoas e cobranças guardadas por parte de
ambos. Draco nunca perdoou Ivar, por ser ele mesmo, e Ivar, nunca perdoou o
pai, por não aceita-lo como ele era. Eu sentia a dor dos dois, e via em ambos
os lados as razões e os erros. Mas Ivar estava suscetível e também
decidido a poder ver a mãe e irmã quando quisesse. A idade o amadureceu, os
valores familiares ficaram mais fortes, a saudade e a solidão por estar em uma
terra que não era a dele talvez tenham pesado, o fato é que ele aceitou e o
mais importante, me prometeu, ouvir o pai, sem arrogância e sem magoa.
E foi assim que na manha do quarto dia, a
minha caravana retornava a Kazra, tendo Ivar e Ahleena a me acompanhar. Draco
seria avó e seria avisado disso por ambos. O impacto dessa noticia, eu tinha
certeza, mudaria tudo. Que trunfo maravilhoso os deuses me davam!
Lady Kalandra
High Jarl'Woman
Lady Kalandra
High Jarl'Woman
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