Tenho que admitir, não sei viver longe dele. Mesmo com a alegria e
os dias felizes do reencontro com meu filho, meu coração desejava ardentemente
por Draco. Quando cheguei a kazra, a via do mercado principal que levava
a nossa casa estava abarrotada de kaillas, mercadores, crianças e escravos, a
rua estava interditada por uma caravana que havia recém chegado e descarregava
suas mercadorias. Desci da liteira e atravessei a pé o mercado, desviando da
turva de pessoas que obstruíam meu caminho, seguida por uma pequena leva de
guerreiros nortenhos, encabeçados por Bors, meu guarda pessoal, e Ivar, ambos
implorando para que eu não me expusesse tanto. Draco da sacada percebeu o
movimento e veio de encontro a mim, espada desembainhada pronto para guerra,
julgando que algo errado acontecia. Vi em seus olhos o alivio ao ver que
eu estava bem, e o sorriso que invadia seu rosto pelo meu retorno, o mesmo
olhar profundo e afetuoso que em seguida caiu sobre Ivar. Ambos se olharam em
silencio por um longo tempo, ate que achei por bem quebrar a tensão.
“- Meu Senhor, O Pasha do Oásis de Saphir
veio ter conosco, será nosso hospede, junto com sua companheira".
A farsa, ali, diante de todos devia ser
mantida. Tirando os mais íntimos, velhos companheiros do circulo de Draco, como
Tobry e Bors, ou de Ruby, minha escrava de longos anos que viu Ivar crescer, ninguém
mais sabia da verdade.
Era o primeiro encontro de ambos ao longo
dos anos e eu podia sentir a tensão do momento. Ordenei que vinho e comida
fossem servidos e os quartos preparados. Foi então que a vi. Uma bela negra de
corpo delgado, formas redondas e avantajadas. Os seios fartos empinados que
balançavam ao sabor do movimento, a cintura fina, a bunda redonda e grande que
gingava no balançar dos quadris arredondados, os olhos eram cinza, a boca carnuda,
o rosto bem feito emoldurado pela juba negra de cachos que caiam sedosos pelas
costas. Por uns instantes fiquei perdida, me perguntando quem era. O
colar metálico sem seu pescoço, a pouca roupa não deixavam duvidas, era uma
escrava, mas eu não a tinha comprado isso era fato! Então de onde ela tinha
surgido. Virei-me imediatamente buscando a resposta nos olhos de Draco que
ignorou o fato. Ela caminhava com a altivez de uma livre, mas também com a
sensualidade de uma escrava, e a forma como ela dobrou-se aos pés de Draco e o
serviu em seu meticuloso ritual, me sugeriu que ele vinha dedicando seu tempo
para que ela soubesse como agrada-lo.
Ivar deve ter percebido minha surpresa,
mesmo eu tentando não deixar evidente meu espanto. Ele lançou os olhos azuis
sobre a negra e percebi que ele a avaliava. Eu não esperava encontrar tamanha
beldade aos pés de meu companheiro. Mas não era hora de esmiuçar o assunto e
não daria o braço a torce diante de uma escrava, para que ela soubesse o quanto
ela me incomodava. Então, trouxe a tona o assunto da gravidez de Ahleena e
dispensei todas as escravas. O momento exigia privacidade, para que em família,
comemorássemos a benção dos deuses. Draco emocionou-se e tocou a barriga de Ahleena. Um neto era uma dádiva, uma benção dos deuses, o seu sangue renovado, ele sorriu para Ivar e depois para mim. Haviam lágrimas nos olhos do meu companheiro.
Foi no findar da noite, quando as tochas
já se apagavam, dentro da privacidade de nosso quarto, que indaguei Draco sobre
a escrava.
"- O nome dela é Meera. Foi um presente de Kamal, uma livre,
filha de um Ubar de Schendi. Um agrado.” Draco sorriu. "- Creio que ele
almeja algo de mim". Comentou enquanto se desfazia do cinto de mestre.
Kamal? O mesmo Kamal que foi até o Kasbah
de Ivar me propor um livre companheirismo entre seu pupilo e minha filha? Se
ele já tinha encontrado Draco, por que não fez a proposto ele mesmo? Por que se
deslocou ate o Oásis e nada mencionou sobre o encontro de ambos e o presente
dado? Sentiu uma súbita raiva daquele homem. Senti-me enganada. Contei a Draco
sobre a visita de Kamal ao Oásis e a proposta de companheirismo para nossa
filha, e que o tinha convidado a nossa casa, para conhecer o jovem pretendente.
Draco ficou tão irritado quanto eu, não
somente pelo fato de ficar claro que Kamal jogou conosco, mas também, pela
ideia de casar Thássia. Ele ainda não tinha digerido bem essa ideia. Era algo
que precisava ser trabalhado. Thassia já passava dos vinte e cinco anos, seus
estudos haviam sido interrompidos e o pai a mantinha em Tsirq-Jula, em uma
gaiola dourada. Já era mais do que hora de colocar fim aquela situação. No dia
seguinte mandaria um mensageiro com a data do jantar ate Kamal, e claro, eu
mesma providenciaria um presente para ele, para retribuir o mimo, com que ele
gentilmente, presenteou meu companheiro. Gentileza deve ser sempre retribuída!
Lady Kalandra
High Jarl'Woman
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