A certeza que já tinha ouvido o nome do
pretendente de Thássia era confirmada quando aquele garoto de cabelos vermelhos
entrou acompanhado por Kamal em minha casa. O Grande Larl Vermelho. Não foi
assim que Vittus, aquele garotinho que conheci em Sesrrunir, se autoproclamou?
Tive que conter meu sorriso. Ele agora estava com seus dezoitos anos, tinham um
rosto jovem e bonito, uma fina e esparsa barba ruiva teimava em crescer na
esperança, talvez, de torna-lo mais velho. Os olhos azuis eram vividos e
brilhantes, e me olhavam espantados e curiosos. As palavras pareciam presas em
sua garganta. Teria ele me reconhecido? Aquilo me divertiu.
"- Sejam bem vindos a minha casa! "
Eu os saldei, Draco apenas grunhiu. Ele
ainda não tinha absorvido bem a ideia de casar Thássia.
"- Um garoto, Kalandra. Ele mal saiu das
fraldas. O que está pensando? Ele não consegue empunhar um machado, como vai
defender nossa filha? E ainda por cima um escriba."
Draco não via as coisas como eu. Ele era
um guerreiro, o valor maior em um machado, no sangue dos inimigos banhando
corpo na vitória. Mas, nossa filha, no que dependesse de mim, não ia se
enterrar junto ao fogo de um longhall, para definhar aos poucos. Eu estava
disposta a dar-lhe uma casta, não que isso importasse no Norte, sendo ela quem
era, estava acima desses detalhes. Thássia não era igual às outras mulheres de
Torvalds, não digo o gênio e a determinação, mas sim a aspiração ao estudo de
Medicina. Ela se viu obrigada a abandonar esses sonhos quando o pai a trouxe de
volta para casa e a manteve em Tsirq-Jula. E por Draco, ela continuaria assim.
Além do mais, alguém mais jovem que ela, permitiria que tivesse mais
habilidade no trato com ele, e se ela fosse esperta, e eu esperava que fosse
ela conduziria esse companheirismo de forma a ter "liberdade"
para seguir seus estudos.
Kamal, por sua vez, não lançava os mesmo
olhares cobiçosos para mim. Era um homem esperto, sabia medir o território que
pisava. Percebi o olhar dele vagar na direção de Meera, a escrava negra de
Schendi, com a qual ele presenteou Draco. Devo dizer que minha mente
trabalhava, eu buscava resposta em cada movimento, expressão ou frase de Kamal,
para as tantas perguntas sobre aquele homem que eu me fazia. O que ele
queria afinal? Apenas casar seu pupilo com nossa filha? Ou haveria algo por trás
disso?
Ivar nos acompanhou durante o jantar.
Achei por bem que ele participasse, afinal era o irmão de Thássia e, se Kamal
desejava algo de nós, era bom que soubesse que havia uma aliança entre o Norte
e o Oásis de Saphir , e desconsiderasse , qualquer intenção de voltar-se contra
Ivar. Por outro lado, Ivar estava tão curioso quanto nós para saber dos planos
e proposta de Kamal. Meu filho, já tinha deixado claro no acordo com o pai, que
desejava o País do Sal.
Tentei conduzir o jantar da forma mais
amena possível, apagando um ou outro sinal de incêndio que ameaçasse acabar com
o encontro. Não queria que nosso convidado se sentisse , de alguma forma ,
constrangido ou ofendido, em minha casa. O contrato de companheirismo entre os
dois me interessava. O garoto vinha de uma alta casta, tinha um nome solido por
trás de si, compartilhava o amor pelo conhecimento que minha filha tinha e era
de uma amabilidade sedutora, uma companhia agradável. Eu estava convencida que
seria perfeito para Thássia. Restava convencer Draco,
Ele relutou, mas por fim, determinou o
preço da noiva. Nem mesmo a filha do Ubar de Ar, teria um preço tão elevado.
Desconfio que ele imponha o alto valor , na intenção de fazer o pretendente
desistir. Mas para nosso espanto, Vittus aceitou o preço , e a Draco, não
restou muita opção a não ser , se conformar.
Vittus partiria em comitiva para o Norte,
assim que os arranjos estivessem prontos. O casamento se daria o mais rápido
possível, em Lydius, diante de todo povo do Norte como testemunha. E eu
tinha tanto para arrumar, um casamento para providenciar! Mas claro, como boa
anfitriã, não me esqueci de retribuir a gentileza de Kamal, para meu
companheiro. Uma mulher livre, de beleza ímpar, filha de um Ubar de Schendi,
dada como escrava, era um presente e tanto, eu devia supera-lo. Não, eu não
daria outra escrava. Você pode consegui-las em cada rua das marcas de qualquer
cidade, ou nas caravanas de mercadores que correm Gor. Uma escrava mais bonita
que a outra. Meu presente era tão belo , nobre e até mais caro. Com a ajuda de
Ivar que conhecia a região , e a de Tobyr, eu comprei para Kamal, um belo
garanhão negro. Digno de um Ubar. Uma beleza negra e selvagem sobre quatro
patas, capaz de despertar a inveja ate mesmo dos deuses. Eu disse selvagem,
sim, e no sentido literal da palavra. Segundo o dono do animal, ele era indócil,
impossível de ser montado, já havia derrubado seus melhores cavaleiros e
avançado contra eles, tentando arrancar pedaços de suas carnes com suas duas
fileiras de afiados dentes. Bem, ele me pareceu perfeito!
Os olhos de Kamal brilharam quando viu o
Kaiila com o qual eu o presenteei. Já Draco, me olhou com a fagulha
do ciúme acesa no olhar. Era como se me perguntasse: "Por que nunca ganhei
de você um presente assim?" Oras meu querido, simplesmente porque te amo!
E naquela noite, sonhei com Kamal, sendo derrubado pelo maravilhoso kailla , que
saltava sobre ele, mordendo, tentando arrancar um pedaço daquela carne morena.
Acordei sorrindo!
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